*DETALHES DE UM PALÁCIO: Elevadores podem ser obras de arte

Elevadores são obras de arte

Diariamente, o elevador central do Palácio Tiradentes sobe e desce os cinco andares do prédio cerca de mil vezes. Mas apesar da intensa movimentação, a sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) ainda conta com mais seis máquinas. Todas elas chegaram ao palácio no ano de 1926 para a inauguração do prédio que foi construído para ser a Câmara dos Deputados (1926-1930).

Os elevadores do palácio são na verdade um espetáculo à parte para quem chega à Alerj - pela primeira vez - tendo como acesso as escadarias da Rua Primeiro de Março ou Rua Dom Manuel. Todos com portas pantográficas, têm cabines revestidas em aço e madeira, além de pintura em cinza e bege com apliques dourados.

As máquinas, que têm o interior decorado nos estilos rococó e  art nouveau, foram fabricadas pela empresa americana Otis, que desde a instalação vem cuidando da conservação. Com exceção do elevador central, os equipamentos possuem o mesmo maquinário de fabricação.

Onde encontrá-los

Além da cabine central, três aparelhos dão acesso aos departamentos de limpeza,  à administração e à sala de máquinas, no primeiro andar pela Rua Dom Manuel; dois estão nas laterais da escadaria principal (foto) - originalmente servindo à presidência e aos deputados) - e o terceiro ao lado do Plenário (com acesso direto à taquigrafia).

"Os que foram originalmente projetados para uso exclusivo da presidência e dos  deputados possuem forração interna com detalhes entalhados e ornamentados na própria madeira, além dos espelhos bisotados - que são cortes em sentido contrário nas bordas do vidro - com fino acabamento.

"São verdadeiras obras de arte,"  destacou a arquiteta da subdiretoria-geral de Engenharia e Arquitetura da Alerj, Lenise Silva."Se eles a princípio causam curiosidade, com suas portas pantográficas e movimentação à manivela, se comparados aos elevadores mais modernos,  surpreendem pelo bom funcionamento".

No entanto, se nada mudou na aparência dos elevadores nos últimos 93 anos, as regras de circulação já não são as mesmas. Os que eram  usados para a circulação exclusiva do presidente e parlamentares, por exemplo, atualmente servem  a todos os servidores e visitantes do palácio.

"Só se acontecer alguma coisa fora da rotina ou por questões da segurança da Casa, é que interrompemos o transporte comum e deixamos as máquinas à disposição dos agentes responsáveis pela guarda do prédio", justificou o coordenador do departamento de elevadores, José Corrêa Junior.

Em caso de eventos extraordinários, como as cerimônias de posse do governador ou dos deputados (que ocorrerá no dia 1º de fevereiro), o equipamento fica com a exclusividade de uso da presidência e assessores. "Ele também tem uso especial para a equipe de taquígrafos durante as sessões no Plenário, devido ao fluxo intenso dos funcionários", destacou Junior.

Segundo ele, as máquinas apresentam defeitos com uma frequência muito menor do que as dos prédios da Rua da Alfândega (Edifício Leonel de Moura Brizola) e anexo (Edifício XXIII de Julho), muito mais modernos. "São como carros antigos. As peças são originais, com uma boa qualidade", comparou Júnior.

No comando das relíquias

Ao todo, são 36 ascensoristas da Associação dos Amigos Deficientes Físicos (AADEF) que trabalham em rodízio entre os três prédios da Alerj em dois turnos divididos das 9h às 14h e das 14h às 20h. Dos sete elevadores, apenas o central funciona 24 horas, devido às rondas noturnas feitas pelo departamento de segurança do Palácio Tiradentes.

A empresa fabricante também faz plantão permanente no horário comercial para qualquer emergência, além de realizar uma vez por mês a manutenção preventiva e corretiva de todas as máquinas.

Dentro de um maquinário de mais de 90 anos, o trabalho de ascensorista ou cabineiro - como eram chamados esses profissionais no passado -  dando nome inclusive ao primeiro Sindicato dos Cabineiros de Elevador do Distrito Federal, em 1933 -  pelo menos no Palácio Tiradentes, é marcado por histórias no mínimo marcantes, como nos conta o ascensorista Luiz Dourado, 53 anos, os últimos dez deles na Alerj.

"Nestes elevadores transportamos político, artistas, servidores, prestador de serviço a jogador de futebol, todos juntos e misturados", recordou Dourado.

Seu colega de trabalho, José Carlos Martins Batista, com pouco mais de três anos de Casa diz que a estrutura metálica das portas e a engrenagem à mostra impressionam muitos visitantes. "É comum  a gente ouvir dos que entram pela primeira vez no prédio:  'que bonito!',  'uma verdadeira peça de museu',  'isso é uma relíquia'. Deixa a gente orgulhoso de trabalhar aqui", disse ele.

Tradições nos monumentos

A história da empresa Otis começou em 1852, quando Elisha Graves Otis, aos 41 anos de idade, em Vermont (EUA), inventou um recurso criativo para tornar os elevadores mais seguros e apropriados para o transportes de pessoas.

Logo depois foi desenvolvido um mecanismo que sustentava a cabina do elevador no lugar caso o cabo rompesse: surgia então o freio de segurança para elevadores.  E com esse grande passo, os elevadores ajudaram a tornar possível a construção de edifícios mais altos, e transformaram a paisagem urbana no mundo todo.

No Brasil, a história dos Elevadores Otis - uma subsidiária da americana United Technologies Corp -  teve início em 1906, quando foi vendido o primeiro elevador da marca no país para o Palácio das Laranjeiras, atual residência do governador do Estado do Rio de Janeiro.

Em 1926, a empresa  instalou sete elevadores no Palácio Tiradentes.

"Nos sentimos honrados em fazer parte de monumentos históricos no Brasil e no mundo, oferecendo nossos produtos e serviços com inovação, segurança e qualidade", ressalta o diretor regional no Rio de Janeiro, Luiz Prata.

Os elevadores da Otis estão presentes também em outros ícones turísticos, como: Cristo Redentor, Estádio do Maracanã e o Elevador Lacerda (BA).

Por Symone Munay e Audryn Karolyne(estagiária)