O primeiro capítulo da nossa história
Há quem passe pelo primeiro capítulo da história do Brasil quando acessa o corredor do segundo andar pela entrada principal do Palácio Tiradentes, e talvez não perceba! Medindo 2,20m de largura por 4m de altura, a tela do artista Aurélio de Figueiredo ostenta o título de "O Primeiro Capítulo da nossa História". A pintura que foi instalada ali no ano de 1925, ano que antecedeu a inauguração do palácio, retrata o momento em que o escrivão Pero Vaz de Caminha (1450-1500) lê a carta descritiva das terras descobertas para Pedro Álvares Cabral e para Frei Henrique, célebre por ter realizado a 1ª missa em território brasileiro.
Conhecida como o primeiro documento que oficializou a História do Brasil, depois do descobrimento das terras aqui encontradas, o texto de Caminha registrou as primeiras impressões do que aqui foi observado. A carta foi escrita entre os dias 26 de abril e 02 de maio, em Porto Seguro, na Bahia. Segundo historiadores, os dias de interrupção se deram pelo fato de o escrivão ter que prestar auxílio ao capitão-mor da embarcação - na organização dos últimos detalhes - para a partida de uma nova frota rumo às Índias.
Em 2003, a tela foi restaurada por uma equipe de técnicos da Escola Nacional de Belas Artes, o que justifica seu bom estado de conservação.
No mural, Pedro Álvares Cabral está sentado num pequeno banco de madeira de vários assentos, tendo Frei Henrique ao seu lado sob o olhar atento do Mestre João, bacharel em medicina, físico e astrônomo, em segundo plano, e à frente do escrivão Pero Vaz de Caminha, de pé. A pintura se divide, ao longe e acima, pela portinhola da câmara de comando da embarcação. Sobre o convés, cai em dobras a bandeirada com cruz, símbolo da marinhagem - pessoal de bordo.
Em primeiro plano, do lado direito e na parte inferior do mural, uma cadeira sem encosto tem apetrechos indígenas tais como, arco, flecha, instrumentos musicais e outras indumentárias.
E não é por é acaso que a exposição do primeiro documento escrito de nossa História esteja sob a guarda do Palácio Tiradentes, ex sede da ALERJ - local de elaboração e guarda de documentos tão importantes de nossa História, a Casa das leis.
Sobre o autor da obra
O paraibano Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello (1854 - 1916), nascido na cidade de Areia, foi pintor, caricaturista, desenhista, escultor e tornou-se conhecido principalmente como pintor de temas históricos, retratos e cenas do gênero. Suas principais telas são: "Francesca da Rimini" (1883) e "Último baile da ilha fiscal/A ilusão do terceiro reinado" (1905), que representa o último baile da monarquia, realizado na Ilha Fiscal - no interior da baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Ainda adolescente frequentou a Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, sob a orientação de seu irmão, o também pintor Pedro Américo (1843 - 1905).
Por Symone Munay
Fotos: Reprodução SMy e Rafael Wallace